30 - O HETEROSSEXUAL

Elizeu tinha um comportamento francamente heterossexual. Costumava andar com mulheres, e as amava, sempre que oportunidades aparecessem. Não era normal este costume, na época, em sua cidade, mas ninguém jamais atinou em recriminá-lo por tais práticas.

Possuia um pênis normal, e, segundo entrevistas colhidas junto às suas amantes, ele alcançava o orgasmo quatro ou cinco minutos após deitar sobre elas, no intercurso sexual.

Em geral, fumava cigarros de filtro, com gestos estudados, meticulosos, como um homem faz. E pronunciava, ao meio do discurso, incontáveis palavrões, o que dava à sua conversa, um caráter másculo, viril.
Dizem que, no começo, chamou a atenção, no clube, no bar, e na quadra de tênis. Apesar de o mundo estar em paz, totalmente, e da explosão demográfica ter sido controlada há muito tempo, todos se acostumaram com o Elizeu, e ninguém mais o recriminava por esse ostensivo comportamento machista.

Havia associações entre o comportamento viril e a sociedade opressora, do passado, que levou o mundo à Terceira Guerra Mundial. Mas, ninguém supunha - ou mesmo poderia atribuir ao Elizeu, aspirações, ou que belicistas fossem suas pretensões comportamentais.

Apenas certas mães amedrontavam-se com ele, e o evitavam, além de repreender veementemente suas filhas, caso ouvissem falar que alguma delas simpatizara, mesmo em sonho, com o rapaz.

No mais, em meio à turma da escola, composta por homossexuais, passivos e ativos, Elizeu nunca arranjou intrigas. Costu-mava ser delicado com todos eles, ainda que nunca tivesse manifestado o mínimo interesse em andar com qualquer um.

Era sabido por todos, a atenção desmedida que os meninos de sua escola lhe dispensavam. Mas, hábil, educado, Elizeu a todos despistava, desconversava, evitando maiores aproximações.

Pelo que se sabe, apenas um, de todos os rapazes da escola, conseguira algo dele: um beijo, no rosto, no dia em que todos comemoraram o seu aniversário. Desde esse dia, no entanto, Elizeu se descontrolava, visivelmente, quando João Belizário, o felizardo do beijo, se aproximava ou estava por perto.

Um rapaz bem estranho, o Elizeu, mas muito benquisto.
Ameaça à paz e à prosperidade, para uns - espécime arqueológica, de um passado belicoso e esquecido da humanidade, para outros.

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