22 - TEU CORPO


Deitado sobre o teu corpo
esqueço o quanto sou mau,
esqueço o quanto sofri,
esqueço a panela no fogo.

A maciez do teu corpo,
a gramínea, o preto
do pelo, o tecido da pele,
tudo me traz arrepios,
tudo me faz melancólico,
tudo me acende e me apaga.

Anúncio luminoso,
luz de vela,
encrespo-me nos teus braços,
perco-me pelas tuas portas
decoradas e indecorosas
e beijo a tua carcaça.

Teu olho preto, chupo,
longo tempo - tremo,
como se mamãe chegasse
de mansinho e eu pudesse
ver que ela me olha e me quer.
Pálida, quieta, cálida.

Redemoinhas meu cérebro,
e traz aflições ver-te assim,
inerte, frio, sabendo
que ainda há pouco
eras vida
minha
- e agora és morte.
Eternidade que vou aturar
a carregar pela vida inteira
teu féretro.
Morre, Antônio, morre e me esquece!

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