28 - O MEU MAIOR DESEJO

Tudo, tudo eu te queria dar - um deus
eu queria ser,
para presentear-te o mundo.
Eu me faria então a mais bonita
- o mais doirado corpo de Ipanema:
dengosa, nega danada, pedaço de mau
[caminho,
toda tua, eternamente.
Conversaríamos, então, sofregamente,
acerca do sol e das flores.
Dos gerânios... (Examinaste já
os gerânios? Precisas!...)
E eu te diria, sibilina, que o mar é teu
- o meu presente primeiro.
Depois, ah! depois eu te faria ver:
são todos teus os germes
que lavrando a terra enobrecem
o trabalho do teu braço
generoso e bom que a cultiva.
E só então eu te faria ver
que eu sou também humana
como as outras escondidas
sob a pele bronzeada de Ipanema.
E que terra sou, também, fecunda
e boa para o teu arado.
E que não vês em mim hoje senão
um verme malcriado e arredio,
por ser Lúcia Ninguém,
bêbada e suja, dormitando sob as mil
letras de um jornal,
de uma rua sórdida da Lapa.

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