16 - PETIÇÃO TERRORISTA

Um dia que eu estava quieto 
João revelou que me amava. 
Incendiei. 
Como se um jorro 
de napalm me tivesse atingido. 
Meu coração, desolada cratera, 
vi João. Como uma pluma, 
um B-52, 
possante, rijo, sobrevoava minh’alma. 
Fui aos ares. 
Desfraldei-me, 
a ouvir bandas marciais. 
Olhei atento seus olhos, 
medi seu porte, senso 
e falo: 
- João, pense no que diz como se morresse. 
A vida eu vejo 
como um desdobramento de mortes. 
Quero viver todas elas. 
Ele me olha, nostálgico. 
Seus cílios, arames farpados, 
fecham-se comigo dentro. 
Eu vejo: 
mulheres batendo roupas, 
as panelas vazias, um filho 
repulsivo no colo, 
os cabelo de azinhavre, 
os dentes postiços, 
a missa aos domingos 
e a xepa no final da feira. 
- Não, João. Mata-me três vezes, 
para lavar tua honra 
pois eu te trai - agora, 
mesmo antes de dizer 
que aceito.

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