07 - A MULHER QUE MORA EM MIM


A mulher que mora em mim
de noite sacode a saia,
remexe e bebe,
intumescida e apaixonada.
Nas noites que eu não quero
ela me atira nos braços
de homens que eu nunca vi.
Pensa, nostálgica, canta,
e embeleza o rosto
como um girassol.
Anda todas as ruas,
beija todos os homens,
se procura.
Encarcerada em minh’alma
faz de mim ofício.
Requebra quando não vejo,
canta quando lamento,
romântica, frenética, bêbada.
Não me infunde medo,
mas só me apavora
quando nas horas graves
do meu dia
quer sair para trottoir.
Feroz, voraz, insana,
quer amar a cidade inteira,
ser anel de toda mão,
chapéu de toda cabeça.
Aprendi a gostar dela
e dos sons arroubos
um pouco demoradamente.
Coexistimos equilibrados,
largos e satisfeitos
a maior parte do tempo.
Há dias que ela alucina:
quando eu durmo ela acorda,
quando canto ela cala,
silencia quando falo.
Me investe,
me explora,
me oprime - mas eu gosto.
Compreendi finalmente
que em mim está vivendo
a síntese crucial do mundo:
aqui os contrários se unem,
poderosa, apaixonada, eterna
e furiosamente.

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