05 - E NO ENTANTO É PRECISO VIVER

Caminhões continuam saindo
do Nordeste
carregando gente
como gado. E eu choro.
o homem que amo viaja
na carne brasileira,
no sangue latino
- trazendo um punhal.
Às 8 horas da noite
o continente estremece
e o povo não atina
o que fazer com os órgãos
genitais da gente.
E, no entanto, mil crianças
de todos os sexos
acabam de nascer.
Amarro minha fome de amor
fortemente
com os cordões de miséria
da minha cidade.
Boto as tropas na rua.
Temo pelo futuro. Danação.
Você que não sabe o que fazer da vida
pegue-me pela mão
e me carregue para o vazio
do que há-de-vir.
Eu também profundamente
entediado com isto tudo.
E, no entanto, é preciso viver.
As gerações futuras nada têm com isto.

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